Meu tempo pra escrita tem sido muito curto, desde que me conheço por gente, organizo minha vida, cuidando primeiro das prioridades. Infelzimente postar aqui não tem sido uma delas.
Hoje quero divulgar o importante evento que ocorrerá em Florianópolis no mês de dezembro:
http://www.congressodesaudemental.ufsc.br/
estarei participando como colaboradora voluntária.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
terça-feira, 30 de setembro de 2008
ABRAÇAR - TOCAR
O toque nunca foi muito fácil pra mim. Sempre evitei, mas como nossa cultura é povoada de abraços hipócritas, eu simplesmente achava que evitava contatos mas íntimos por uma questão de sinceridade no extremo. Hoje me dou conta, que tem muito a ver com meu sensorial.
Abraçar ou tocar pra mim, sempre fiz muito forçada, por questões sociais e logo que podia me afastava imediatamente da pessoa. Nunca gostei de cumprimentos de pegar na mão. Logicamente que com o passar do tempo, isso foi ficando comum e não era tão ruim assim. Raras as pessoas que eu fiz por prazer. Várias pessoas que sentaram ao meu lado, e o simples tocar sem querer, me deixava extremamente irritada. Evito qualquer toque, sempre procuro correr, fugir. Simplesmente eu acho desnecessário. Com filhos e marido, é diferente e óbvio, gosto muito de tocá-los.
Abraçar ou tocar pra mim, sempre fiz muito forçada, por questões sociais e logo que podia me afastava imediatamente da pessoa. Nunca gostei de cumprimentos de pegar na mão. Logicamente que com o passar do tempo, isso foi ficando comum e não era tão ruim assim. Raras as pessoas que eu fiz por prazer. Várias pessoas que sentaram ao meu lado, e o simples tocar sem querer, me deixava extremamente irritada. Evito qualquer toque, sempre procuro correr, fugir. Simplesmente eu acho desnecessário. Com filhos e marido, é diferente e óbvio, gosto muito de tocá-los.
sábado, 27 de setembro de 2008
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
A autora Yvone Falkas, psicóloga, minha amiga é mãe de uma mulher autista . Essa guerreira aborda aqui, as mais variadas situações sobre conviver com uma autista. Tem um capítulo onde Yvone cita a síndrome de asperger e falando das características, uma espécie de teste. Foi onde eu bati de frente e me "descortinei" para meu jeito e comportamento, muito tenho sofrido ao longos dos anos, com rótulos e ataques. Tanto de pessoas que me cercam, como de mim mesma. Por vezes tentei ser diferente, mas por vezes tbém muito me frustrei.
O Livro
Fiz essa bela leitura e abri meus olhos quanto ao meu jeito de ser. As esquisitices que tanto me incomodam não passam de características do autismo.
http://www.vencendooautismo-24x7.blogspot.com/
http://www.vencendooautismo-24x7.blogspot.com/
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
AUTISMO???
Por anos, me achava estranha, arrogante e muitas vezes dura e insensível. Apesar de em algumas situações eu me tornar um cordeirinho. Após estudos sobre meu filho que tem autismo, descobri que eu tbém era carregada de muitas características. Dizem que nas mulheres aparece pouco quando é leve. Passa muito despercebido, sendo confundido com tudo, menos com autismo.
sábado, 20 de setembro de 2008
Síndrome de Asperger
SÍNDROME DE ASPERGER – Um guia para pais e profissionais
(Tony Attwood)
Introdução
Os portadores de Síndrome de Asperger interpretam o mundo de um modo diferente. Eles nos acham estranhos e desconcertantes. Por que não falamos o que pensamos? Por que falamos tantas coisas que realmente não pensamos? Por que fazemos tantos comentários triviais que não significam nada de fato? Por que nos entediamos quando uma pessoa com Asperger nos fala com detalhes a respeito de tabelas de horários , placas de carros, diferentes tipos de cenouras ou o movimento dos planetas? Como toleramos a confusão de sensações que nos são trazidas por luzes, sons, toques e cheiros, sem nos incomodarmos? Por que nos importamos com hierarquia social – por que não tratamos todo mundo de igual para igual? Por que temos relacionamentos emocionais tão complicados? Por que enviamos e recebemos tantos sinais sociais e como conseguimos entendê-los? Acima de tudo, por que somos tão ilógicos, se comparados aos portadores de SA?
A verdade, é porque os portadores de SA são a minoria. O modo como percebem o mundo faz sentido para eles, e alguns aspectos são realmente admiráveis, mas freqüentemente os coloca em conflito com o modo convencional (maioria) de pensar, sentir e se comportar. Eles não conseguem mudar, e muitos nem querem. No entanto, eles precisam de ajuda para se adaptarem ao mundo e utilizarem suas habilidades extraordinárias de um modo construtivo, para desenvolverem seus interesses especiais (fixações) sem entrarem em conflito com os outros, e para atingirem independência quando adultos e construírem relacionamentos sociais positivos.
Lorna Wing
Prefácio
O que é Síndrome de Asperger? Há alguns anos atrás quase ninguém conhecia esse termo. Atualmente parece que toda escola tem uma criança Asperger. A primeira definição da SA foi publicada há 50 anos por Hans Asperger, mas seu trabalho só foi reconhecido internacionalmente na década de 90. Até um período bem recente, pais e professores devem ter notado uma criança um pouco estranha, mas não tinham a menor idéia por que a criança era assim, nem sabiam o que fazer para ajudá-la.
Decidi escrever esse livro como um guia para pais e profissionais para auxiliar na identificação e tratamento de crianças e adultos com SA. Foi baseado num trabalho de revisão de literatura bastante extenso e na minha experiência como psicólogo especialista nessa área de atuação. Em 25 anos de profissão eu conheci milhares de pessoas com essa síndrome, variando em idade, habilidades e backround, desde crianças em idade pré-escolar a pessoas com idade mais avançada, incluindo um professor aposentado, que ganhou um Prêmio Nobel. Sempre me impressiona a paciência e a maneira engenhosa com a qual eles tentam adquirir habilidades que outras pessoas adquirem naturalmente. Também admiro pais e professores, que, não possuindo recursos e orientação, são capazes de obterem progressos significativos.
Este livro contém uma descrição e análise das características incomuns dos Aspergers, e estratégias que podem ajudar a diminuir aquelas mais marcantes. Há várias citações de pessoas com SA, bem como sua visão do mundo.
Tony Attwood
1. Diagnóstico
O carteiro estava entregando a correspondência na casa de número 20, quando uma garota veio ao seu encontro. A família tinha acabado de se mudar e ele estava curioso a respeito de seus novos ocupantes. Antes mesmo que ele pudesse dar Bom Dia, a garotinha lhe perguntou “Você gosta de Deltics?” Confuso, sem saber o por quê daquela pergunta, ele ficou pensando se Deltics era uma nova marca de chocolates ou um novo personagem de um programa de televisão. Antes mesmo que ele respondesse a garota falou, “São os trens a diesel mais poderosos que existem. O de 2:30h que vem de King Cross é um Deltic, eu tenho 27 fotografias de Deltics”. O carteiro mostrou-se aliviado por ter sido esclarecido em relação ao tópico em questão, mas a relevância do tema, para ele, não estava aparente. A garota continuou a falar a respeito das qualidades desse tipo de trem. Ela não estava interessada no que o carteiro poderia estar pensando a respeito dos trens e aparentava não entender os sinais sutis que ele lhe enviava, de que deveria continuar seu trabalho. Por fim, o carteiro precisou ser um pouco abrupto e interromper o monólogo da garota com um “Adeus” , para continuar a entregar suas cartas. Ele estava intrigado com o fato de a garota apresentar um conhecimento tão profundo a respeito de trens e pensou ‘Por que ela achou que eu estaria interessado nesse assunto? Ela quase nem olhou para mim. Será que ela não pode falar a respeito de outras coisas? Ela parecia uma enciclopédia ambulante’. Este cenário fictício descreve um encontro típico com uma criança com Síndrome de Asperger (SA). A falta de habilidades sociais, incapacidade de manter uma conversação e intensa fixação ou interesse num determinado tema ou objeto são as principais características dessa síndrome.
Os pais explicam como seus filhos permanecem isolados na escola, possuindo poucos amigos. Eles parecem não entender a linguagem corporal, e muitas vezes fazem comentários que são verdadeiros, porém bastante constrangedores. Quando espera com seu pai na fila do supermercado o adolescente exclama “Como ela é grande!” Se o pai o repreende dizendo que não se deve dizer coisas desse tipo, ele responde “Mas ela É grande!” . Os sinais que mostram o constrangimento do pai logo depois do primeiro comentário não são reconhecidos, nem tão pouco a conseqüência do que foi dito nos sentimentos da pessoa que estava sendo alvo dos comentários. A criança com SA fica confusa e não entende por que foi repreendida se o que ela falou era a verdade.
Com freqüência há um histórico de intensa fascinação por um tema especial como transportes, animais ou ciências. Estes interesses vêm e vão , mas dominam o tempo livre da criança bem como sua conversação. Normalmente a criança possui uma interpretação literal de figuras de linguagem como “O gato comeu sua língua”, possui um linguajar preciso ou pedante. É como se você estivesse falando com um pequeno dicionário ambulante. Na escola os professores notam um desnível no perfil de habilidades. A criança pode apresentar uma memória prodigiosa, concentração extraordinária quando seu tópico de interesse é abordado e uma metodologia original para resolução de problemas. Em contraste, pode haver falta de motivação e atenção para atividades que captam a atenção de todas as outras crianças, avaliações que indicam dificuldades específicas de aprendizagem e desajeitamento motor. Há uma preocupação pelo fato de a criança ser socialmente distante dos colegas e de ser alvo de gozações. Então, pais e professores concordam que essa criança que parece normal e possui habilidades intelectuais normais, por alguma razão inexplicável parece não se encaixar no grupo ou agir de acordo com outras crianças da mesma idade.
Lorna Wing foi a primeira pessoa a usar o termo Síndrome de Asperger (SA) numa publicação científica em 1981. Ela descreveu um grupo de crianças e adultos que possuíam características muito semelhantes às descritas pelo pediatra vienense Hans Asperger. Em sua tese de doutorado, publicada em 1944, ele descreveu 4 garotos que possuíam habilidades sociais, lingüísticas e cognitivas bastante incomuns. Ele utilizou o termo ‘psicopatia autística’ para descrever o que ele considerava uma forma de desordem da personalidade. Interessante ele ter utilizado o termo ‘autístico’ pois um outro pesquisador, Leo Kanner, nos Estados Unidos, havia publicado recentemente um trabalho sobre crianças autistas. Ambos os autores descreviam padrões de comportamento similares e utilizaram-se da mesma terminologia. Infelizmente, a descrição de Hans Asperger foi largamente ignorada na Europa e nos Estados Unidos pelos 30 anos seguintes. No entanto, ele continuou a diagnosticar e tratar de crianças com tais características.
Leo Kanner e Hans Asperger descreveram crianças que apresentavam fracas interações sociais, dificuldades de comunicação e fixações. Leo Kanner descreveu crianças com maior comprometimento no espectro autístico, enquanto que Hans Asperger descreveu as menos comprometidas. No entanto, foi o trabalho de Kanner que dominou nossa visão de autismo, tanto é, que nos critérios diagnósticos empregados, consta a falta de interação com outras pessoas e danos severos de linguagem - o clássico silêncio e isolamento da criança. Lorna Wing constatou que algumas crianças possuíam o quadro de autismo clássico quando muito jovens, mas com o passar do tempo, desenvolviam a linguagem e o desejo de se relacionar com as outras pessoas. Por um lado, estas crianças progrediram além do diagnóstico de autismo clássico, por outro, ainda apresentavam problemas significativos na interação social e conversação. Elas se enquadravam melhor na descrição original de Hans Asperger.
Lorna Wing descreveu as principais características clínicas da SA como sendo:
· Falta de empatia.
· Interação inapropriada, ingênua ou unilateral.
· Pouca ou nenhuma habilidade de estabelecer amizades.
· Linguagem pedante ou repetitiva.
· Comunicação não-verbal pobre.
· Fixações
· Movimentos desajeitados e pouco coordenados e postura estranha.
Nos anos 90 o conceito prevalecente de SA é de que é uma variante de autismo e Pervasive Developmental Disorder. Ou seja, a condição afeta o desenvolvimento de uma gama de habilidades. Atualmente é considerada como um subgrupo, dentro do espectro autístico , que possui seus próprios critérios diagnósticos. Há evidências de que a SA é bem mais comum que o autismo clássico, e pode ser diagnosticada em crianças que nunca receberam diagnóstico de autismo antes.
O Diagnóstico da Síndrome de Asperger
Há dois estágios que levam ao diagnóstico da SA. O primeiro consiste de um formulário em escala numérica a ser preenchido por pais e professores, que pode ser indicativo de que a criança apresenta SA. O segundo estágio, compreende a avaliação por profissionais experientes em desordens do comportamento, utilizando-se de critérios diagnósticos que dão uma descrição clara da síndrome.
Estágio 1: Escala numérica
Atualmente existem duas novas escalas que podem ajudar a identificar possíveis portadores de SA; a escala Sueca (Ehlers & Gillberg 1993) e a escala Australiana (Garnett & Attwood 1995). Ambas baseiam-se nos critérios diagnósticos anteriores, pesquisas em literatura relacionada e vasta experiência clínica.
ESCALA AUSTRALIANA
O seguinte formulário foi desenhado para identificar comportamentos e habilidades indicativos de SA em crianças que estão no ensino fundamental. É nesta idade que os padrões incomuns de comportamento e habilidades mostram-se mais evidentes. Para cada pergunta há uma escala que vai de 0 a 6, sendo que 0 significa raramente e 6 freqüentemente.
A. DAS HABILIDADES SOCIAIS E EMOCIONAIS:
1. A criança apresenta falta de compreensão de como brincar com outras crianças? Ex: desconhece as regras implícitas da interação social. 0 1 2 3 4 5 6
2. Na hora do recreio a criança evita a companhia das outras crianças? Ex: Prefere ficar sozinha na biblioteca ou em outro local. 0 1 2 3 4 5 6
3. A criança aparenta não conhecer convenções sociais e códigos de conduta, e faz comentários impróprios? Ex: Comenta algo com uma pessoa sem se dar conta de que o comentário pode ter sido ofensivo. 0 1 2 3 4 5 6
4. A criança apresenta falta de empatia, ou seja, uma compreensão intuitiva dos sentimentos do próximo? Ex: Não percebe que um pedido de desculpas pode fazer com que alguém se sinta melhor. 0 1 2 3 4 5 6
5. A criança acha que as outras pessoas conhecem seus pensamentos e sentimentos?
Ex: Ela não percebe que você não tem o conhecimento de algo que ocorreu enquanto você não estava presente. 0 1 2 3 4 5 6
6. A criança precisa receber elogios constantemente para se sentir segura, especialmente quando as coisas mudam ou saem erradas? 0 1 2 3 4 5 6
7. Falta de nuances na expressão de emoções? Ex: Demonstra raiva ou afeição fora da proporção para a situação. 0 1 2 3 4 5 6
8. A criança não consegue expressar com precisão suas emoções. Ex: Não compreende os níveis de expressões emocionais para diferentes tipos de pessoas. 0 1 2 3 4 5 6
9. A criança não apresenta interesse em participar de jogos e competições
0 1 2 3 4 5 6
10. A criança mostra-se indiferente a modismos? Ex: Pokemon, roupa da Xuxa, etc
0 1 2 3 4 5 6
B. COMUNICAÇÃO
11. A criança tem uma interpretação literal das figuras de linguagem? Ex: Mostra-se confusa com expressões do tipo: ‘está chovendo canivetes’ , ‘fulano está cuspindo bala’ .
0 1 2 3 4 5 6
12. A criança apresenta um tom de voz estranho ou engraçado? 0 1 2 3 4 5 6
13. Quando você conversa com a criança ela parece não ter interesse nos seus comentários? Ex: Não pergunta qual a sua opinião a respeito do tópico em questão. 0 1 2 3 4 5 6
14. Durante uma conversa a criança faz pouco contato olho no olho? 0 1 2 3 4 5 6
15. A linguagem utilizada é pedante ou formal? 0 1 2 3 4 5 6
16. A criança apresenta problemas com diálogos? Ex: Demora a responder ou então não consegue pedir uma explicação quando não entende o que foi dito, preferindo mudar de assunto. 0 1 2 3 4 5 6
C. HABILIDADES COGNITIVAS
17. A criança prefere livros informativos aos de ficção? Ex; Prefere ler enciclopédias a livros de aventura. 0 1 2 3 4 5 6
18. A criança apresenta uma memória prodigiosa? Ex: Lembra do número da placa do carro do vizinho ou de coisas que aconteceram há muito tempo atrás. 0 1 2 3 4 5 6
19. A criança carece de jogos imaginativos? Ex: Outras crianças não são incluídas em seus jogos imaginários ou a criança fica confusa nas brincadeiras de faz-de-conta com outras crianças
D. INTERESSES E FIXAÇÕES
20. A criança apresenta interesse ou fascínio num determinado tópico, pesquisando tudo o que há a respeito desse assunto? Ex: Torna-se especialista em mapas, carros ou tabelas.
0 1 2 3 4 5 6
21. A criança se torna excessivamente transtornada com mudanças em sua rotina? Ex: Torna-se agitada quando segue um caminho diferente do que o de costume para ir a escola.
0 1 2 3 4 5 6
22. A criança desenvolve rituais ou rotinas que devem ser seguidos? Ex: Alinhar seus brinquedos antes de ir dormir. 0 1 2 3 4 5 6
E. COORDENAÇÃO MOTORA
23. A criança possui fraca coordenação motora? Ex: Não consegue pegar uma bola que é jogada para ela. 0 1 2 3 4 5 6
24. A criança possui um jeito estranho quando corre? 0 1 2 3 4 5 6
F. OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Nesta seção faça um “Ö” em qualquer uma das características que a criança apresentou:
a) Medo ou estresse devido a sons do dia-a-dia, utensílios domésticos
toque no cabelo ou pele
utilização de determinado tipo de roupa
barulhos repentinos
visão de certos objetos
lugares barulhentos, lotados
b) Tendência a balançar o corpo ou fazer “hand-flapping” quando excitada ou estressada.
c) Falta de sensibilidade a baixos níveis de dor.
d) Demorou a falar.
e) Tiques.
Se a resposta for positiva para a maioria das questões na escala, e se estiver entre os números 2 e 6, não significa automaticamente que a criança tenha SA. No entanto, é um forte indicativo, e essa criança deve ser encaminhada a um profissional para que o segundo estágio de avaliação seja efetuado.
Estágio 2:Avaliação Diagnóstica
A Avaliação diagnóstica leva pelo menos uma hora e consiste em um exame detalhado de aspectos específicos da interação social, linguagem, cognição e coordenação motora. Pode haver também uma avaliação utilizando-se de testes psicológicos, entrevista com os pais, história pregressa, avaliações feitas por professores e terapeutas.
Durante a avaliação o médico cria situações onde ele pode avaliar o surgimento de características proeminentes, e faz anotações. Por exemplo, durante a avaliação do comportamento e interação social, deve-se observar a qualidade da reciprocidade, como a outra pessoa é incluída na conversa ou brincadeira, com que freqüência ocorre o contato olho no olho, tipo de expressão facial e linguagem corporal utilizada. Faz-se perguntas à criança a respeito do conceito de amizade, e pede-se para que ela fale a respeito de uma gama de emoções. Aos pais pergunta-se a respeito do grau de entendimento que a criança tem dos códigos sociais, relacionamento com outras crianças da mesma faixa etária, grau de competitividade da criança. No consultório não é possível observar como a criança se comporta num grupo da mesma faixa etária. Para tanto, deve-se marcar uma visita a escola da criança. Assim obtém-se uma avaliação completa de suas habilidades sociais.
Existe um padrão de linguagem bem característico das crianças com Asperger. Normalmente (mas nem sempre) elas apresentam um atraso na linguagem, e quando começam a falar tendem a fazer muitas perguntas aos pais e as conversas são unilaterais. Durante a avaliação faz-se uma anotação com relação a linguagem pragmática, ou seja, o uso da linguagem no contexto social. Comumente, quando a criança não sabe bem o que responder , mostra-se relutante em pedir explicações e admitir que não sabe a resposta. Elas tendem a mudar de assunto, geralmente falando a respeito do seu tópico de interesse ou então demoram muito tempo para responder. O vocabulário pode ser rico, mas a escolha das palavras e a construção das frases ficam esquisitos. O tom de voz pode parecer estranho. Faz-se uma anotação de incidentes onde o pronome pessoal é mau empregado ex; uso do nome próprio no lugar do ‘eu’ , interpretação literal, e verbalização dos pensamentos (falam alto o que estão pensando).
Avalia-se também a cognição, que é a habilidade de pensar e aprender. Testa-se como a criança entende e interpreta o sentimento dos outros, utilizando-se de uma série de estórias.
Anota qual o tipo de leitura que a criança prefere, como é sua memória para detalhes e acontecimentos passados, a qualidade de suas brincadeiras de faz-de-conta, tanto sozinhas como nas atividades sociais. Dados dos professores sobre habilidades intelectuais da criança são também muito importantes.
Os interesses da criança são examinados e explorados para verificar se são típicos de sua idade, observa-se a predominância dos tópicos de interesse na conversa e no tempo livre da mesma . Os pais são questionados com relação a reação da criança à mudanças de rotina, imperfeições, caos e críticas.
A coordenação motora é avaliada, pedindo que a criança pegue e chute uma bola, corra, desenhe e escreva. Anota-se qualquer tipo de movimento estereotipado, tiques ou movimentos involuntários, especialmente quando a criança está feliz ou estressada. Também é perguntado aos pais se a criança reage de forma exacerbada a sons, toque, textura e sabor de alimentos, bem como pouca sensibilidade a níveis baixos de dor ou desconforto. Finalmente, examina-se a criança para detectar sinais de ansiedade, depressão desordem do déficit de atenção, e se há outras crianças, em ambos os lados da família, com histórico semelhante. Toma-se nota do histórico da gravidez, nascimento e infância. É importante ressaltar que nenhuma das características para o diagnóstico de Asperger são exclusivas dessa síndrome, e é muito difícil encontrar um indivíduo que apresente todas elas. Cada criança é única em termos de manifestação dos sintomas em cada área.
Para o médico, é necessário considerar diagnósticos alternativos e explicações. Falta de interação social pode ser uma conseqüência de uma desordem de linguagem. A Desordem Semântico Pragmática da Linguagem tem muitas características em comum com Asperger. Crianças com problemas de desenvolvimento e aprendizagem podem apresentar padrões de comportamento social incomuns, e deve-se considerar se o perfil de habilidades e comportamento é condizente com seu nível de desenvolvimento. Crianças com um QI acima da média podem achar entediantes as brincadeiras de outras crianças da mesma idade. Podem também adquirir grandes conhecimentos em determinados assuntos, no entanto, seu perfil social e lingüístico estará dentro da normalidade, o que não ocorre com as crianças com SA. Algumas crianças com Déficit de Atenção, possuem também características indicativas de Asperger, mas ambas são desordens distintas, e uma criança pode apresentar as duas condições. Deve-se examinar com bastante atenção para distingui-las e deve-se levar em consideração habilidades pessoais e características de crianças naturalmente tímidas, introvertidas ou ansiosas.
O diagnóstico diferencial de outras condições semelhantes a Asperger será discutido no cap. 8. Por hora, podemos dizer que o processo para se obter o diagnóstico envolve um exame cuidadoso de uma gama de explicações e outras desordens do desenvolvimento que se assemelham a SA. A parte final desse processo consiste em aplicar os conhecimentos obtidos na avaliação aos critérios diagnósticos formais.
Critérios Diagnósticos Formais:
- OMS International Classification of Diseases
- Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-4)
- Peter Szatmari – Canadá
- Christopher & Corina Gillberg – Suécia
06 Caminhos que levam ao diagnóstico
Estudos recentes indicam que a idade média para o diagnóstico é de 08 anos, mas
pode-se diagnosticar desde crianças pequenas até adultos. O autor tem vasta experiência no diagnóstico e tratamento de crianças e adultos com Asperger, e parece haver 6 caminhos que levam a esse diagnóstico.
1. Diagnóstico de autismo na infância
Um dos motivos que fez com que Lorna Wing propusesse a utilização da terminologia Síndrome de Asperger, foi justamente o fato de algumas crianças que foram diagnosticadas como sendo autistas quando bem pequenas, mostraram melhoras significativas na linguagem e interação social (não mais se isolavam). A criança não-verbal passa a falar e passa a freqüentar escola normal recebendo assistência. Esta melhora pode ser num espaço curto de tempo e ocorre pouco antes da criança completar 05 anos. Não é certo se essa melhora é inerente a criança, ou se é fruto de programas de intervenção quando a criança é ainda bem pequena, talvez os dois. Portanto o diagnóstico de autismo estava correto, e a criança evoluiu no espectro autístico chegando a condição que melhor se enquadra como Asperger. É essencial que o diagnóstico de autismo seja revisto para verificar se um diagnóstico de Asperger não seria mais apropriado, para que então a criança possa receber assistência mais direcionada as suas necessidades atuais.
2. O reconhecimento dos sinais/sintomas quando a criança entra na escola
O desenvolvimento da criança em idade pré-escolar pode não ter sido tão incomum, e pais ou profissionais (pediatras) não perceberam nenhum fato sugestivo de autismo. A primeira professora dessa criança, que possui experiência em comportamento e desenvolvimento de crianças nessa faixa etária , demonstra preocupação pelo fato da criança isolar-se e não entender os códigos de condutas sociais na sala de aula, possuir fascinação por um tópico de interesse, não possuir coordenação motora adequada. Essa criança pode também ser agressiva e inquieta quando em contato mais próximo com outras crianças, ou quando precisa esperar numa fila. Em casa, essa criança pode ser bem diferente, brincando com seus irmãos e estabelecendo uma interação relativamente normal com seus pais. No entanto, em circunstâncias fora de seu domínio, e quando em contato com crianças da mesma faixa etária, os sinais tornam-se mais evidentes. Essas crianças possuem os sinais típicos, mas não são consideradas como tendo que receber um diagnóstico formal pelos professores. Elas são aquelas crianças ‘diferentes’, que passam de um ano para outro deixando seus professores sempre intrigados.
Um estudo recente foi conduzido na Suécia para que professores pudessem identificar possíveis alunos SA de acordo com uma escala de valores. Depois, essas crianças foram avaliadas pelos critérios diagnósticos existentes. Inicialmente acreditava-se que o número de crianças com Asperger fosse 1 : 1000, semelhante ao autismo; mas esse estudo indicou uma incidência de 1:300 (Ehlers & Gillberg 1993). Então, a maioria de crianças SA não teriam tido diagnóstico anterior de autismo.
3. Uma manifestação atípica de outra síndrome
A avaliação do desenvolvimento da criança pode ter sugerido algum tipo de desordem. Por exemplo, a criança pode ter tido histórico de atraso na fala, recebendo acompanhamento fonoaudiológico, e assim assumi-se que a criança possui uma desordem de linguagem. No entanto numa observação mais cuidadosa das habilidades cognitivas e do comportamento dessa criança sugere que o perfil é mais complexo e SA seria uma diagnóstico mais correto. A criança pode ter sido diagnosticada como tendo Desordem e Deficit de Atenção, e assumi-se que essa condição é a única responsável por todos os sintomas. As vezes outras condições são facilmente detectadas, como paralisia cerebral e neurofibromatose. O médico preocupa-se pelo fato da criança apresentar manifestações atípicas, mas como ele não possui conhecimento suficiente a respeito de SA, ele então considera como sendo possível essas características atípicas. Eventualmente algum clínico ou os pais mesmos reconhecem alguns sinais ou lêem a respeito de SA e encaminham a criança para ser diagnosticada corretamente. Quando um diagnóstico é feito , não se deve excluir a possibilidade de outra condição como SA, e experiência clínica e pesquisas já identificaram crianças com mais de um diagnóstico. As vezes passam-se vários anos para que os pais possam obter o segundo diagnóstico.
4. Diagnóstico de um parente com autismo ou SA
Quando uma criança é diagnosticada como tendo SA, os pais procuram buscar o máximo de informações possíveis a respeito dessa condição. Procuram verificar se algum outro parente apresentou tal diagnóstico. Há famílias com mais de um filho com SA, e casos de SA em várias gerações.
5. Desordem psiquiátrica secundária
Uma pessoa pode ter passado pelo ensino fundamental tendo sido considerada uma criança esquisita ou excêntrica , sem nunca ter recebido nenhum tipo de diagnóstico. Na adolescência , essa pessoa torna-se mais consciente de seu isolamento e de suas diferenças. Tentam interagir com outros adolescentes, mas não conseguem e sentem-se discriminadas, ridicularizadas ou excluídas, isso as leva a um estado de depressão. Por causa da depressão são encaminhadas a um psiquiatra, que percebe que a depressão é uma conseqüência secundária da SA.
Muitos adultos com SA relatam sentimentos intensos de ansiedade, sendo necessário um tratamento. Pode haver ataques de pânico ou transtornos compulsivos.
Na adolescência, a pessoa pode fechar-se em si mesma, começar a falar sozinha, perder interesse em socialização e descuidar-se da aparência e da higiene pessoal. Pode haver suspeita de esquizofrenia , mas um exame cuidadoso revela que seu comportamento não é psicótico, e sim uma conseqüência natural da SA durante a adolescência.
6. Sinais/sintomas residuais de Asperger no adulto
Agora que SA está se tornando mais conhecida, adultos que têm algum parente Asperger ou que acham possuir algumas manifestações da síndrome, têm procurado um diagnóstico formal. Durante a avaliação do adulto é importante saber a respeito das habilidades e do comportamento dessa pessoa quando criança. Pais, parentes ou professores podem ser fontes valiosas de informações.
As vezes um psiquiatra chega a uma diagnóstico correto em pessoas que anteriormente receberam diagnóstico de esquizofrenia atípica ou alcoolismo. A incidência de esquizofrenia em Aspergers é a mesma da população em geral, mas as vezes os sinais superficiais são semelhantes, o que leva ao diagnóstico incorreto. O alcoolismo muitas vezes é sinal de depressão ou tentativa de reduzir a ansiedade em situações sociais, quando a pessoa recebe tratamento para o alcoolismo, recebe também o diagnóstico correto de SA.
Em circunstâncias bastante raras, indivíduos SA cometeram algum tipo de delito, geralmente relacionado às suas fixações. Por exemplo, um rapaz que tinha fascínio por trens, decidiu “roubar” uma locomotiva. Foi constatado que ele não tinha nenhuma intenção criminal , e sim um entusiasmo e curiosidade muito grande com relação ao seu tópico de interesse. Assim o psiquiatra do Estado fez o diagnóstico.
(Tony Attwood)
Introdução
Os portadores de Síndrome de Asperger interpretam o mundo de um modo diferente. Eles nos acham estranhos e desconcertantes. Por que não falamos o que pensamos? Por que falamos tantas coisas que realmente não pensamos? Por que fazemos tantos comentários triviais que não significam nada de fato? Por que nos entediamos quando uma pessoa com Asperger nos fala com detalhes a respeito de tabelas de horários , placas de carros, diferentes tipos de cenouras ou o movimento dos planetas? Como toleramos a confusão de sensações que nos são trazidas por luzes, sons, toques e cheiros, sem nos incomodarmos? Por que nos importamos com hierarquia social – por que não tratamos todo mundo de igual para igual? Por que temos relacionamentos emocionais tão complicados? Por que enviamos e recebemos tantos sinais sociais e como conseguimos entendê-los? Acima de tudo, por que somos tão ilógicos, se comparados aos portadores de SA?
A verdade, é porque os portadores de SA são a minoria. O modo como percebem o mundo faz sentido para eles, e alguns aspectos são realmente admiráveis, mas freqüentemente os coloca em conflito com o modo convencional (maioria) de pensar, sentir e se comportar. Eles não conseguem mudar, e muitos nem querem. No entanto, eles precisam de ajuda para se adaptarem ao mundo e utilizarem suas habilidades extraordinárias de um modo construtivo, para desenvolverem seus interesses especiais (fixações) sem entrarem em conflito com os outros, e para atingirem independência quando adultos e construírem relacionamentos sociais positivos.
Lorna Wing
Prefácio
O que é Síndrome de Asperger? Há alguns anos atrás quase ninguém conhecia esse termo. Atualmente parece que toda escola tem uma criança Asperger. A primeira definição da SA foi publicada há 50 anos por Hans Asperger, mas seu trabalho só foi reconhecido internacionalmente na década de 90. Até um período bem recente, pais e professores devem ter notado uma criança um pouco estranha, mas não tinham a menor idéia por que a criança era assim, nem sabiam o que fazer para ajudá-la.
Decidi escrever esse livro como um guia para pais e profissionais para auxiliar na identificação e tratamento de crianças e adultos com SA. Foi baseado num trabalho de revisão de literatura bastante extenso e na minha experiência como psicólogo especialista nessa área de atuação. Em 25 anos de profissão eu conheci milhares de pessoas com essa síndrome, variando em idade, habilidades e backround, desde crianças em idade pré-escolar a pessoas com idade mais avançada, incluindo um professor aposentado, que ganhou um Prêmio Nobel. Sempre me impressiona a paciência e a maneira engenhosa com a qual eles tentam adquirir habilidades que outras pessoas adquirem naturalmente. Também admiro pais e professores, que, não possuindo recursos e orientação, são capazes de obterem progressos significativos.
Este livro contém uma descrição e análise das características incomuns dos Aspergers, e estratégias que podem ajudar a diminuir aquelas mais marcantes. Há várias citações de pessoas com SA, bem como sua visão do mundo.
Tony Attwood
1. Diagnóstico
O carteiro estava entregando a correspondência na casa de número 20, quando uma garota veio ao seu encontro. A família tinha acabado de se mudar e ele estava curioso a respeito de seus novos ocupantes. Antes mesmo que ele pudesse dar Bom Dia, a garotinha lhe perguntou “Você gosta de Deltics?” Confuso, sem saber o por quê daquela pergunta, ele ficou pensando se Deltics era uma nova marca de chocolates ou um novo personagem de um programa de televisão. Antes mesmo que ele respondesse a garota falou, “São os trens a diesel mais poderosos que existem. O de 2:30h que vem de King Cross é um Deltic, eu tenho 27 fotografias de Deltics”. O carteiro mostrou-se aliviado por ter sido esclarecido em relação ao tópico em questão, mas a relevância do tema, para ele, não estava aparente. A garota continuou a falar a respeito das qualidades desse tipo de trem. Ela não estava interessada no que o carteiro poderia estar pensando a respeito dos trens e aparentava não entender os sinais sutis que ele lhe enviava, de que deveria continuar seu trabalho. Por fim, o carteiro precisou ser um pouco abrupto e interromper o monólogo da garota com um “Adeus” , para continuar a entregar suas cartas. Ele estava intrigado com o fato de a garota apresentar um conhecimento tão profundo a respeito de trens e pensou ‘Por que ela achou que eu estaria interessado nesse assunto? Ela quase nem olhou para mim. Será que ela não pode falar a respeito de outras coisas? Ela parecia uma enciclopédia ambulante’. Este cenário fictício descreve um encontro típico com uma criança com Síndrome de Asperger (SA). A falta de habilidades sociais, incapacidade de manter uma conversação e intensa fixação ou interesse num determinado tema ou objeto são as principais características dessa síndrome.
Os pais explicam como seus filhos permanecem isolados na escola, possuindo poucos amigos. Eles parecem não entender a linguagem corporal, e muitas vezes fazem comentários que são verdadeiros, porém bastante constrangedores. Quando espera com seu pai na fila do supermercado o adolescente exclama “Como ela é grande!” Se o pai o repreende dizendo que não se deve dizer coisas desse tipo, ele responde “Mas ela É grande!” . Os sinais que mostram o constrangimento do pai logo depois do primeiro comentário não são reconhecidos, nem tão pouco a conseqüência do que foi dito nos sentimentos da pessoa que estava sendo alvo dos comentários. A criança com SA fica confusa e não entende por que foi repreendida se o que ela falou era a verdade.
Com freqüência há um histórico de intensa fascinação por um tema especial como transportes, animais ou ciências. Estes interesses vêm e vão , mas dominam o tempo livre da criança bem como sua conversação. Normalmente a criança possui uma interpretação literal de figuras de linguagem como “O gato comeu sua língua”, possui um linguajar preciso ou pedante. É como se você estivesse falando com um pequeno dicionário ambulante. Na escola os professores notam um desnível no perfil de habilidades. A criança pode apresentar uma memória prodigiosa, concentração extraordinária quando seu tópico de interesse é abordado e uma metodologia original para resolução de problemas. Em contraste, pode haver falta de motivação e atenção para atividades que captam a atenção de todas as outras crianças, avaliações que indicam dificuldades específicas de aprendizagem e desajeitamento motor. Há uma preocupação pelo fato de a criança ser socialmente distante dos colegas e de ser alvo de gozações. Então, pais e professores concordam que essa criança que parece normal e possui habilidades intelectuais normais, por alguma razão inexplicável parece não se encaixar no grupo ou agir de acordo com outras crianças da mesma idade.
Lorna Wing foi a primeira pessoa a usar o termo Síndrome de Asperger (SA) numa publicação científica em 1981. Ela descreveu um grupo de crianças e adultos que possuíam características muito semelhantes às descritas pelo pediatra vienense Hans Asperger. Em sua tese de doutorado, publicada em 1944, ele descreveu 4 garotos que possuíam habilidades sociais, lingüísticas e cognitivas bastante incomuns. Ele utilizou o termo ‘psicopatia autística’ para descrever o que ele considerava uma forma de desordem da personalidade. Interessante ele ter utilizado o termo ‘autístico’ pois um outro pesquisador, Leo Kanner, nos Estados Unidos, havia publicado recentemente um trabalho sobre crianças autistas. Ambos os autores descreviam padrões de comportamento similares e utilizaram-se da mesma terminologia. Infelizmente, a descrição de Hans Asperger foi largamente ignorada na Europa e nos Estados Unidos pelos 30 anos seguintes. No entanto, ele continuou a diagnosticar e tratar de crianças com tais características.
Leo Kanner e Hans Asperger descreveram crianças que apresentavam fracas interações sociais, dificuldades de comunicação e fixações. Leo Kanner descreveu crianças com maior comprometimento no espectro autístico, enquanto que Hans Asperger descreveu as menos comprometidas. No entanto, foi o trabalho de Kanner que dominou nossa visão de autismo, tanto é, que nos critérios diagnósticos empregados, consta a falta de interação com outras pessoas e danos severos de linguagem - o clássico silêncio e isolamento da criança. Lorna Wing constatou que algumas crianças possuíam o quadro de autismo clássico quando muito jovens, mas com o passar do tempo, desenvolviam a linguagem e o desejo de se relacionar com as outras pessoas. Por um lado, estas crianças progrediram além do diagnóstico de autismo clássico, por outro, ainda apresentavam problemas significativos na interação social e conversação. Elas se enquadravam melhor na descrição original de Hans Asperger.
Lorna Wing descreveu as principais características clínicas da SA como sendo:
· Falta de empatia.
· Interação inapropriada, ingênua ou unilateral.
· Pouca ou nenhuma habilidade de estabelecer amizades.
· Linguagem pedante ou repetitiva.
· Comunicação não-verbal pobre.
· Fixações
· Movimentos desajeitados e pouco coordenados e postura estranha.
Nos anos 90 o conceito prevalecente de SA é de que é uma variante de autismo e Pervasive Developmental Disorder. Ou seja, a condição afeta o desenvolvimento de uma gama de habilidades. Atualmente é considerada como um subgrupo, dentro do espectro autístico , que possui seus próprios critérios diagnósticos. Há evidências de que a SA é bem mais comum que o autismo clássico, e pode ser diagnosticada em crianças que nunca receberam diagnóstico de autismo antes.
O Diagnóstico da Síndrome de Asperger
Há dois estágios que levam ao diagnóstico da SA. O primeiro consiste de um formulário em escala numérica a ser preenchido por pais e professores, que pode ser indicativo de que a criança apresenta SA. O segundo estágio, compreende a avaliação por profissionais experientes em desordens do comportamento, utilizando-se de critérios diagnósticos que dão uma descrição clara da síndrome.
Estágio 1: Escala numérica
Atualmente existem duas novas escalas que podem ajudar a identificar possíveis portadores de SA; a escala Sueca (Ehlers & Gillberg 1993) e a escala Australiana (Garnett & Attwood 1995). Ambas baseiam-se nos critérios diagnósticos anteriores, pesquisas em literatura relacionada e vasta experiência clínica.
ESCALA AUSTRALIANA
O seguinte formulário foi desenhado para identificar comportamentos e habilidades indicativos de SA em crianças que estão no ensino fundamental. É nesta idade que os padrões incomuns de comportamento e habilidades mostram-se mais evidentes. Para cada pergunta há uma escala que vai de 0 a 6, sendo que 0 significa raramente e 6 freqüentemente.
A. DAS HABILIDADES SOCIAIS E EMOCIONAIS:
1. A criança apresenta falta de compreensão de como brincar com outras crianças? Ex: desconhece as regras implícitas da interação social. 0 1 2 3 4 5 6
2. Na hora do recreio a criança evita a companhia das outras crianças? Ex: Prefere ficar sozinha na biblioteca ou em outro local. 0 1 2 3 4 5 6
3. A criança aparenta não conhecer convenções sociais e códigos de conduta, e faz comentários impróprios? Ex: Comenta algo com uma pessoa sem se dar conta de que o comentário pode ter sido ofensivo. 0 1 2 3 4 5 6
4. A criança apresenta falta de empatia, ou seja, uma compreensão intuitiva dos sentimentos do próximo? Ex: Não percebe que um pedido de desculpas pode fazer com que alguém se sinta melhor. 0 1 2 3 4 5 6
5. A criança acha que as outras pessoas conhecem seus pensamentos e sentimentos?
Ex: Ela não percebe que você não tem o conhecimento de algo que ocorreu enquanto você não estava presente. 0 1 2 3 4 5 6
6. A criança precisa receber elogios constantemente para se sentir segura, especialmente quando as coisas mudam ou saem erradas? 0 1 2 3 4 5 6
7. Falta de nuances na expressão de emoções? Ex: Demonstra raiva ou afeição fora da proporção para a situação. 0 1 2 3 4 5 6
8. A criança não consegue expressar com precisão suas emoções. Ex: Não compreende os níveis de expressões emocionais para diferentes tipos de pessoas. 0 1 2 3 4 5 6
9. A criança não apresenta interesse em participar de jogos e competições
0 1 2 3 4 5 6
10. A criança mostra-se indiferente a modismos? Ex: Pokemon, roupa da Xuxa, etc
0 1 2 3 4 5 6
B. COMUNICAÇÃO
11. A criança tem uma interpretação literal das figuras de linguagem? Ex: Mostra-se confusa com expressões do tipo: ‘está chovendo canivetes’ , ‘fulano está cuspindo bala’ .
0 1 2 3 4 5 6
12. A criança apresenta um tom de voz estranho ou engraçado? 0 1 2 3 4 5 6
13. Quando você conversa com a criança ela parece não ter interesse nos seus comentários? Ex: Não pergunta qual a sua opinião a respeito do tópico em questão. 0 1 2 3 4 5 6
14. Durante uma conversa a criança faz pouco contato olho no olho? 0 1 2 3 4 5 6
15. A linguagem utilizada é pedante ou formal? 0 1 2 3 4 5 6
16. A criança apresenta problemas com diálogos? Ex: Demora a responder ou então não consegue pedir uma explicação quando não entende o que foi dito, preferindo mudar de assunto. 0 1 2 3 4 5 6
C. HABILIDADES COGNITIVAS
17. A criança prefere livros informativos aos de ficção? Ex; Prefere ler enciclopédias a livros de aventura. 0 1 2 3 4 5 6
18. A criança apresenta uma memória prodigiosa? Ex: Lembra do número da placa do carro do vizinho ou de coisas que aconteceram há muito tempo atrás. 0 1 2 3 4 5 6
19. A criança carece de jogos imaginativos? Ex: Outras crianças não são incluídas em seus jogos imaginários ou a criança fica confusa nas brincadeiras de faz-de-conta com outras crianças
D. INTERESSES E FIXAÇÕES
20. A criança apresenta interesse ou fascínio num determinado tópico, pesquisando tudo o que há a respeito desse assunto? Ex: Torna-se especialista em mapas, carros ou tabelas.
0 1 2 3 4 5 6
21. A criança se torna excessivamente transtornada com mudanças em sua rotina? Ex: Torna-se agitada quando segue um caminho diferente do que o de costume para ir a escola.
0 1 2 3 4 5 6
22. A criança desenvolve rituais ou rotinas que devem ser seguidos? Ex: Alinhar seus brinquedos antes de ir dormir. 0 1 2 3 4 5 6
E. COORDENAÇÃO MOTORA
23. A criança possui fraca coordenação motora? Ex: Não consegue pegar uma bola que é jogada para ela. 0 1 2 3 4 5 6
24. A criança possui um jeito estranho quando corre? 0 1 2 3 4 5 6
F. OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Nesta seção faça um “Ö” em qualquer uma das características que a criança apresentou:
a) Medo ou estresse devido a sons do dia-a-dia, utensílios domésticos
toque no cabelo ou pele
utilização de determinado tipo de roupa
barulhos repentinos
visão de certos objetos
lugares barulhentos, lotados
b) Tendência a balançar o corpo ou fazer “hand-flapping” quando excitada ou estressada.
c) Falta de sensibilidade a baixos níveis de dor.
d) Demorou a falar.
e) Tiques.
Se a resposta for positiva para a maioria das questões na escala, e se estiver entre os números 2 e 6, não significa automaticamente que a criança tenha SA. No entanto, é um forte indicativo, e essa criança deve ser encaminhada a um profissional para que o segundo estágio de avaliação seja efetuado.
Estágio 2:Avaliação Diagnóstica
A Avaliação diagnóstica leva pelo menos uma hora e consiste em um exame detalhado de aspectos específicos da interação social, linguagem, cognição e coordenação motora. Pode haver também uma avaliação utilizando-se de testes psicológicos, entrevista com os pais, história pregressa, avaliações feitas por professores e terapeutas.
Durante a avaliação o médico cria situações onde ele pode avaliar o surgimento de características proeminentes, e faz anotações. Por exemplo, durante a avaliação do comportamento e interação social, deve-se observar a qualidade da reciprocidade, como a outra pessoa é incluída na conversa ou brincadeira, com que freqüência ocorre o contato olho no olho, tipo de expressão facial e linguagem corporal utilizada. Faz-se perguntas à criança a respeito do conceito de amizade, e pede-se para que ela fale a respeito de uma gama de emoções. Aos pais pergunta-se a respeito do grau de entendimento que a criança tem dos códigos sociais, relacionamento com outras crianças da mesma faixa etária, grau de competitividade da criança. No consultório não é possível observar como a criança se comporta num grupo da mesma faixa etária. Para tanto, deve-se marcar uma visita a escola da criança. Assim obtém-se uma avaliação completa de suas habilidades sociais.
Existe um padrão de linguagem bem característico das crianças com Asperger. Normalmente (mas nem sempre) elas apresentam um atraso na linguagem, e quando começam a falar tendem a fazer muitas perguntas aos pais e as conversas são unilaterais. Durante a avaliação faz-se uma anotação com relação a linguagem pragmática, ou seja, o uso da linguagem no contexto social. Comumente, quando a criança não sabe bem o que responder , mostra-se relutante em pedir explicações e admitir que não sabe a resposta. Elas tendem a mudar de assunto, geralmente falando a respeito do seu tópico de interesse ou então demoram muito tempo para responder. O vocabulário pode ser rico, mas a escolha das palavras e a construção das frases ficam esquisitos. O tom de voz pode parecer estranho. Faz-se uma anotação de incidentes onde o pronome pessoal é mau empregado ex; uso do nome próprio no lugar do ‘eu’ , interpretação literal, e verbalização dos pensamentos (falam alto o que estão pensando).
Avalia-se também a cognição, que é a habilidade de pensar e aprender. Testa-se como a criança entende e interpreta o sentimento dos outros, utilizando-se de uma série de estórias.
Anota qual o tipo de leitura que a criança prefere, como é sua memória para detalhes e acontecimentos passados, a qualidade de suas brincadeiras de faz-de-conta, tanto sozinhas como nas atividades sociais. Dados dos professores sobre habilidades intelectuais da criança são também muito importantes.
Os interesses da criança são examinados e explorados para verificar se são típicos de sua idade, observa-se a predominância dos tópicos de interesse na conversa e no tempo livre da mesma . Os pais são questionados com relação a reação da criança à mudanças de rotina, imperfeições, caos e críticas.
A coordenação motora é avaliada, pedindo que a criança pegue e chute uma bola, corra, desenhe e escreva. Anota-se qualquer tipo de movimento estereotipado, tiques ou movimentos involuntários, especialmente quando a criança está feliz ou estressada. Também é perguntado aos pais se a criança reage de forma exacerbada a sons, toque, textura e sabor de alimentos, bem como pouca sensibilidade a níveis baixos de dor ou desconforto. Finalmente, examina-se a criança para detectar sinais de ansiedade, depressão desordem do déficit de atenção, e se há outras crianças, em ambos os lados da família, com histórico semelhante. Toma-se nota do histórico da gravidez, nascimento e infância. É importante ressaltar que nenhuma das características para o diagnóstico de Asperger são exclusivas dessa síndrome, e é muito difícil encontrar um indivíduo que apresente todas elas. Cada criança é única em termos de manifestação dos sintomas em cada área.
Para o médico, é necessário considerar diagnósticos alternativos e explicações. Falta de interação social pode ser uma conseqüência de uma desordem de linguagem. A Desordem Semântico Pragmática da Linguagem tem muitas características em comum com Asperger. Crianças com problemas de desenvolvimento e aprendizagem podem apresentar padrões de comportamento social incomuns, e deve-se considerar se o perfil de habilidades e comportamento é condizente com seu nível de desenvolvimento. Crianças com um QI acima da média podem achar entediantes as brincadeiras de outras crianças da mesma idade. Podem também adquirir grandes conhecimentos em determinados assuntos, no entanto, seu perfil social e lingüístico estará dentro da normalidade, o que não ocorre com as crianças com SA. Algumas crianças com Déficit de Atenção, possuem também características indicativas de Asperger, mas ambas são desordens distintas, e uma criança pode apresentar as duas condições. Deve-se examinar com bastante atenção para distingui-las e deve-se levar em consideração habilidades pessoais e características de crianças naturalmente tímidas, introvertidas ou ansiosas.
O diagnóstico diferencial de outras condições semelhantes a Asperger será discutido no cap. 8. Por hora, podemos dizer que o processo para se obter o diagnóstico envolve um exame cuidadoso de uma gama de explicações e outras desordens do desenvolvimento que se assemelham a SA. A parte final desse processo consiste em aplicar os conhecimentos obtidos na avaliação aos critérios diagnósticos formais.
Critérios Diagnósticos Formais:
- OMS International Classification of Diseases
- Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-4)
- Peter Szatmari – Canadá
- Christopher & Corina Gillberg – Suécia
06 Caminhos que levam ao diagnóstico
Estudos recentes indicam que a idade média para o diagnóstico é de 08 anos, mas
pode-se diagnosticar desde crianças pequenas até adultos. O autor tem vasta experiência no diagnóstico e tratamento de crianças e adultos com Asperger, e parece haver 6 caminhos que levam a esse diagnóstico.
1. Diagnóstico de autismo na infância
Um dos motivos que fez com que Lorna Wing propusesse a utilização da terminologia Síndrome de Asperger, foi justamente o fato de algumas crianças que foram diagnosticadas como sendo autistas quando bem pequenas, mostraram melhoras significativas na linguagem e interação social (não mais se isolavam). A criança não-verbal passa a falar e passa a freqüentar escola normal recebendo assistência. Esta melhora pode ser num espaço curto de tempo e ocorre pouco antes da criança completar 05 anos. Não é certo se essa melhora é inerente a criança, ou se é fruto de programas de intervenção quando a criança é ainda bem pequena, talvez os dois. Portanto o diagnóstico de autismo estava correto, e a criança evoluiu no espectro autístico chegando a condição que melhor se enquadra como Asperger. É essencial que o diagnóstico de autismo seja revisto para verificar se um diagnóstico de Asperger não seria mais apropriado, para que então a criança possa receber assistência mais direcionada as suas necessidades atuais.
2. O reconhecimento dos sinais/sintomas quando a criança entra na escola
O desenvolvimento da criança em idade pré-escolar pode não ter sido tão incomum, e pais ou profissionais (pediatras) não perceberam nenhum fato sugestivo de autismo. A primeira professora dessa criança, que possui experiência em comportamento e desenvolvimento de crianças nessa faixa etária , demonstra preocupação pelo fato da criança isolar-se e não entender os códigos de condutas sociais na sala de aula, possuir fascinação por um tópico de interesse, não possuir coordenação motora adequada. Essa criança pode também ser agressiva e inquieta quando em contato mais próximo com outras crianças, ou quando precisa esperar numa fila. Em casa, essa criança pode ser bem diferente, brincando com seus irmãos e estabelecendo uma interação relativamente normal com seus pais. No entanto, em circunstâncias fora de seu domínio, e quando em contato com crianças da mesma faixa etária, os sinais tornam-se mais evidentes. Essas crianças possuem os sinais típicos, mas não são consideradas como tendo que receber um diagnóstico formal pelos professores. Elas são aquelas crianças ‘diferentes’, que passam de um ano para outro deixando seus professores sempre intrigados.
Um estudo recente foi conduzido na Suécia para que professores pudessem identificar possíveis alunos SA de acordo com uma escala de valores. Depois, essas crianças foram avaliadas pelos critérios diagnósticos existentes. Inicialmente acreditava-se que o número de crianças com Asperger fosse 1 : 1000, semelhante ao autismo; mas esse estudo indicou uma incidência de 1:300 (Ehlers & Gillberg 1993). Então, a maioria de crianças SA não teriam tido diagnóstico anterior de autismo.
3. Uma manifestação atípica de outra síndrome
A avaliação do desenvolvimento da criança pode ter sugerido algum tipo de desordem. Por exemplo, a criança pode ter tido histórico de atraso na fala, recebendo acompanhamento fonoaudiológico, e assim assumi-se que a criança possui uma desordem de linguagem. No entanto numa observação mais cuidadosa das habilidades cognitivas e do comportamento dessa criança sugere que o perfil é mais complexo e SA seria uma diagnóstico mais correto. A criança pode ter sido diagnosticada como tendo Desordem e Deficit de Atenção, e assumi-se que essa condição é a única responsável por todos os sintomas. As vezes outras condições são facilmente detectadas, como paralisia cerebral e neurofibromatose. O médico preocupa-se pelo fato da criança apresentar manifestações atípicas, mas como ele não possui conhecimento suficiente a respeito de SA, ele então considera como sendo possível essas características atípicas. Eventualmente algum clínico ou os pais mesmos reconhecem alguns sinais ou lêem a respeito de SA e encaminham a criança para ser diagnosticada corretamente. Quando um diagnóstico é feito , não se deve excluir a possibilidade de outra condição como SA, e experiência clínica e pesquisas já identificaram crianças com mais de um diagnóstico. As vezes passam-se vários anos para que os pais possam obter o segundo diagnóstico.
4. Diagnóstico de um parente com autismo ou SA
Quando uma criança é diagnosticada como tendo SA, os pais procuram buscar o máximo de informações possíveis a respeito dessa condição. Procuram verificar se algum outro parente apresentou tal diagnóstico. Há famílias com mais de um filho com SA, e casos de SA em várias gerações.
5. Desordem psiquiátrica secundária
Uma pessoa pode ter passado pelo ensino fundamental tendo sido considerada uma criança esquisita ou excêntrica , sem nunca ter recebido nenhum tipo de diagnóstico. Na adolescência , essa pessoa torna-se mais consciente de seu isolamento e de suas diferenças. Tentam interagir com outros adolescentes, mas não conseguem e sentem-se discriminadas, ridicularizadas ou excluídas, isso as leva a um estado de depressão. Por causa da depressão são encaminhadas a um psiquiatra, que percebe que a depressão é uma conseqüência secundária da SA.
Muitos adultos com SA relatam sentimentos intensos de ansiedade, sendo necessário um tratamento. Pode haver ataques de pânico ou transtornos compulsivos.
Na adolescência, a pessoa pode fechar-se em si mesma, começar a falar sozinha, perder interesse em socialização e descuidar-se da aparência e da higiene pessoal. Pode haver suspeita de esquizofrenia , mas um exame cuidadoso revela que seu comportamento não é psicótico, e sim uma conseqüência natural da SA durante a adolescência.
6. Sinais/sintomas residuais de Asperger no adulto
Agora que SA está se tornando mais conhecida, adultos que têm algum parente Asperger ou que acham possuir algumas manifestações da síndrome, têm procurado um diagnóstico formal. Durante a avaliação do adulto é importante saber a respeito das habilidades e do comportamento dessa pessoa quando criança. Pais, parentes ou professores podem ser fontes valiosas de informações.
As vezes um psiquiatra chega a uma diagnóstico correto em pessoas que anteriormente receberam diagnóstico de esquizofrenia atípica ou alcoolismo. A incidência de esquizofrenia em Aspergers é a mesma da população em geral, mas as vezes os sinais superficiais são semelhantes, o que leva ao diagnóstico incorreto. O alcoolismo muitas vezes é sinal de depressão ou tentativa de reduzir a ansiedade em situações sociais, quando a pessoa recebe tratamento para o alcoolismo, recebe também o diagnóstico correto de SA.
Em circunstâncias bastante raras, indivíduos SA cometeram algum tipo de delito, geralmente relacionado às suas fixações. Por exemplo, um rapaz que tinha fascínio por trens, decidiu “roubar” uma locomotiva. Foi constatado que ele não tinha nenhuma intenção criminal , e sim um entusiasmo e curiosidade muito grande com relação ao seu tópico de interesse. Assim o psiquiatra do Estado fez o diagnóstico.
AUTISMO EM MENINAS
quarta-feira, 17 de setembro de 2008, 16:09 Online
Descobrir autismo em meninas pode ser mais difícil, diz estudo
Segundo pesquisa britânica, meninas mostram sintomas diferentes de casos clássicos.
- Meninas com uma forma mais amena de autismo têm menos probabilidade de serem identificadas e diagnosticadas do que meninos, segundo uma nova pesquisa britânica. Segundo os pesquisadores, que apresentaram a pesquisa na reunião do Royal College of Psychiatrists, na Grã-Bretanha, as meninas mostram sintomas diferentes e menos sinais mais tradicionalmente associados com o autismo, como comportamento repetitivo. Os cientistas afirmaram que, devido a este problema, alguns casos de autismo em meninas podem acabar não diagnosticados. Quase 600 crianças participaram do estudo, 493 meninos e 100 meninas, todos com transtorno do espectro autista. A maioria, 457, tinha passado por consultas na Clínica de Distúrbios Sociais e de Comunicação no Hospital Great Ormond Street, de Londres. Os outros casos estudados foram encaminhados pela Clínica de Psiquiatria Infantil do Royal Hospital de Sunderland e da Clínica de Psiquiatria Infantil do Hospital Universitário de Tampere, na Finlândia. Relacionamentos Todas as crianças analisadas eram descritas como indivíduos cujos sintomas não eram totalmente correlatos com casos clássicos de autismo. Apesar de estas crianças ainda apresentarem dificuldades de socialização, comunicação e comportamento, seus sintomas eram menos rigorosos. E os pesquisadores concluíram que as diferenças na severidade do comportamento podem levar a uma tendência contra a identificação do problema em meninas. Com base na experiência clínica, os pesquisadores observaram que as meninas tinham mais probabilidade de ter interesses obsessivos centrados em pessoas e relacionamentos. Estes interesses podem ser mais bem aceitos pelos pais e, por isso, não são relatados aos médicos. Estes tipos de obsessão também têm menos chances de ser descobertos com o uso de questionários padrão para o diagnóstico do problema. Os estudiosos afirmam que são necessárias mais pesquisas para analisar como o autismo se manifesta de forma diferente entre meninos e meninas. Sociedade Judith Gould, da Sociedade Britânica de Autismo, afirma que é possível que muitas meninas escondam melhor suas dificuldades para ficar de acordo com a sociedade. "Características como timidez e sensibilidade muito alta, comuns em pessoas afetadas pelo autismo, algumas vezes são consideradas como traços tipicamente femininos", afirmou. "Mas, se um menino apresentar estas características, os pais poderão ficar preocupados." Para Gould, a forma como o autismo se apresenta em mulheres pode ser muito complexa. Muitas mulheres e meninas não são diagnosticadas. De acordo com o professor Simon Baron-Cohen, especialista em autismo da Universidade de Cambridge, são necessários mais estudos. "Esta é uma questão clínica muito importante e existem poucos estudos tratando disso", afirmou. "Não deveríamos supor que autismo ou Síndrome de Asperger serão parecidos para ambos os sexos." BBC Brasil -
Descobrir autismo em meninas pode ser mais difícil, diz estudo
Segundo pesquisa britânica, meninas mostram sintomas diferentes de casos clássicos.
- Meninas com uma forma mais amena de autismo têm menos probabilidade de serem identificadas e diagnosticadas do que meninos, segundo uma nova pesquisa britânica. Segundo os pesquisadores, que apresentaram a pesquisa na reunião do Royal College of Psychiatrists, na Grã-Bretanha, as meninas mostram sintomas diferentes e menos sinais mais tradicionalmente associados com o autismo, como comportamento repetitivo. Os cientistas afirmaram que, devido a este problema, alguns casos de autismo em meninas podem acabar não diagnosticados. Quase 600 crianças participaram do estudo, 493 meninos e 100 meninas, todos com transtorno do espectro autista. A maioria, 457, tinha passado por consultas na Clínica de Distúrbios Sociais e de Comunicação no Hospital Great Ormond Street, de Londres. Os outros casos estudados foram encaminhados pela Clínica de Psiquiatria Infantil do Royal Hospital de Sunderland e da Clínica de Psiquiatria Infantil do Hospital Universitário de Tampere, na Finlândia. Relacionamentos Todas as crianças analisadas eram descritas como indivíduos cujos sintomas não eram totalmente correlatos com casos clássicos de autismo. Apesar de estas crianças ainda apresentarem dificuldades de socialização, comunicação e comportamento, seus sintomas eram menos rigorosos. E os pesquisadores concluíram que as diferenças na severidade do comportamento podem levar a uma tendência contra a identificação do problema em meninas. Com base na experiência clínica, os pesquisadores observaram que as meninas tinham mais probabilidade de ter interesses obsessivos centrados em pessoas e relacionamentos. Estes interesses podem ser mais bem aceitos pelos pais e, por isso, não são relatados aos médicos. Estes tipos de obsessão também têm menos chances de ser descobertos com o uso de questionários padrão para o diagnóstico do problema. Os estudiosos afirmam que são necessárias mais pesquisas para analisar como o autismo se manifesta de forma diferente entre meninos e meninas. Sociedade Judith Gould, da Sociedade Britânica de Autismo, afirma que é possível que muitas meninas escondam melhor suas dificuldades para ficar de acordo com a sociedade. "Características como timidez e sensibilidade muito alta, comuns em pessoas afetadas pelo autismo, algumas vezes são consideradas como traços tipicamente femininos", afirmou. "Mas, se um menino apresentar estas características, os pais poderão ficar preocupados." Para Gould, a forma como o autismo se apresenta em mulheres pode ser muito complexa. Muitas mulheres e meninas não são diagnosticadas. De acordo com o professor Simon Baron-Cohen, especialista em autismo da Universidade de Cambridge, são necessários mais estudos. "Esta é uma questão clínica muito importante e existem poucos estudos tratando disso", afirmou. "Não deveríamos supor que autismo ou Síndrome de Asperger serão parecidos para ambos os sexos." BBC Brasil -
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
SURPRESAS NÃO
Nunca fui muito fã de surpresas, acho que é muita adrenalina, detesto estar mal preparada pra seja ela qual for a situação. Ao meu ver, as coisas devem ser avisadas previamente e de preferência com calma, fazer e acontecer. Se bem que a calma, nem sempre significa lentidão, pois o que tem que ser feito, que seja feito logo e com agilidade.
Uma única festa foi-me preparada nessas condições, isso foi há 28 anos। Nunca mais esqueci da tal reunião. Morri de tédio, achei tudo muito inconveniente e sem contar as pessoas, que nem tinham muito a ver com minha pessoa. Resumindo: eu simplesmente odiei a tal reunião.
No meu caso, e no mundo autista, as coisas devem ser avisadas preferencialmente com antecedência, salvo algumas pequenas situações, como por exemplo: algum presente que eu possa vir a receber.
Para mim a surpresa causa muita confusão, muita ansiedade, muito estresse. As coisas devem ser planejadas previamente, em cima da hora só em último caso.
Portanto, se alguém pretende me visitar, por favor, telefone antes.
Uma única festa foi-me preparada nessas condições, isso foi há 28 anos। Nunca mais esqueci da tal reunião. Morri de tédio, achei tudo muito inconveniente e sem contar as pessoas, que nem tinham muito a ver com minha pessoa. Resumindo: eu simplesmente odiei a tal reunião.
No meu caso, e no mundo autista, as coisas devem ser avisadas preferencialmente com antecedência, salvo algumas pequenas situações, como por exemplo: algum presente que eu possa vir a receber.
Para mim a surpresa causa muita confusão, muita ansiedade, muito estresse. As coisas devem ser planejadas previamente, em cima da hora só em último caso.
Portanto, se alguém pretende me visitar, por favor, telefone antes.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
olhe nos meus olhos
Não achava que eu tinha esse tipo de problema. Porque aparentemente, sempre encarei a outra pessoa. Só fui constatar minha dificuldade de fazer contato ocular, depois que conheci meu marido. Homem incomum, não gosta de meias palavras, muito menos de meias conversas. É do tipo que discute relação e quando faz isso, quer muita, mas muita atenção.
Foi nesses papos meio apimentados de ambos, que um dia ele disse: Olhe pra mim, no meu olho!!!! Que é isso? Nunca me disseram algo parecido??? Ora essa, eu sempre olhei nos olhos das pessoas, nunca temi isso. Não era bem assim.
Descobri que olhar nos olhos da pessoa que está mexendo comigo de alguma forma, me incomoda demais. Uma coisa estranha o que sinto, como se fosse uma pressão, uma agonia e pra que eu continue a ouvir essa pessoa não posso ficar encarando ela, olho no olho. Olho pra ela sim, mas nao nos olhos dela, aí dá pra continuar qualquer tipo de papo.
Isso é uma característica autista e a cada dia que passa, mais e mais eu compreendo certas atitudes minhas.
E após uma explosão de choro que tive qdo meu marido me exigia que olhasse nos seus olhos, nunca mais ele pediu isso. Hoje quando quer falar algo que julga sério, ele diz: "não precisa olhar nos meus olhos".
Foi nesses papos meio apimentados de ambos, que um dia ele disse: Olhe pra mim, no meu olho!!!! Que é isso? Nunca me disseram algo parecido??? Ora essa, eu sempre olhei nos olhos das pessoas, nunca temi isso. Não era bem assim.
Descobri que olhar nos olhos da pessoa que está mexendo comigo de alguma forma, me incomoda demais. Uma coisa estranha o que sinto, como se fosse uma pressão, uma agonia e pra que eu continue a ouvir essa pessoa não posso ficar encarando ela, olho no olho. Olho pra ela sim, mas nao nos olhos dela, aí dá pra continuar qualquer tipo de papo.
Isso é uma característica autista e a cada dia que passa, mais e mais eu compreendo certas atitudes minhas.
E após uma explosão de choro que tive qdo meu marido me exigia que olhasse nos seus olhos, nunca mais ele pediu isso. Hoje quando quer falar algo que julga sério, ele diz: "não precisa olhar nos meus olhos".
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
autista eu?
ter um filho autista, me fez entrar neste mundo, de cabeça. Muita literatura, muita observação. Isso tudo começou a clarear minha história pessoal. Até que... Eu tbém sou autista???
Assinar:
Postagens (Atom)